Meu passado me espera.

>> segunda-feira, 9 de março de 2009


Nesses últimos dias tenho tido muita saudade da minha adolescência, em especial dos três anos em que cursei o 2º grau. Foram dias muito especiais. Estudei no Colégio Agrícola de Brasília, esse cuja fachada aparece na foto. Iniciei o Curso Técnico em Agropecuária em 1984 e concluí em 1986.
Ninguém, a não ser um agriculano, sabe de que tipo de vivência eu estou falando. Lá vivíamos em verdadeiros clãs, divididos de acordo com o ano que se cursava, conhece as irmandades de universidades americanas? Algo muito parecido, mas de uma dimensão muito maior.
Os alunos do primeiro ano eram os novatos; os do segundo ano os RAs, para eles a sigla significava Reis Agrícolas, para os demais alunos, Restos Agrícolas, pois ficavam no limbo entre os novatos e os Capa-Gatos, os alunos do terceiro ano. Todos eram batizados com um apelido escolhido por alguém que se tornava seu padrinho, para bem ou para mal. Mas nem todos os apelidos pegavam, eu era chamada de Nilda mesmo.
O relacionamento entre os alunos funcionava mais ou menos assim: o novato chegava na escola odiado por todos, levava trotes, e eu gostaria de dizer que esses trotes não eram violentos, mas vi muita gente ser expulsa durante os três anos que estive ali e soube de muitas outras histórias de abuso.
Bom, os novatos, apesar de odiados por todos e alvo para os trotes, eram protegidos pelos Capa-Gatos quando eram pertubados e perseguidos pelos RAs por causa da implicância que esses sofriam dos terceiro anistas, portanto, era uma vida complicada. Mas passada a fase de caça aos novatos, amizades iam surgindo.
Me lembro do dia em que cheguei ao colégio em 1984, meu pai e minha mãe foram me levar e participar da reunião de abertura do ano letivo e estávamos acompanhados de uma amiga minha de infância, Rita Célia, e da mãe dela.
Nesse ano ainda vivíamos na ditadura militar e a disciplina era rígida, meninos e meninas eram vigiados e não podíamos namorar, muitas vezes até uma conversa mais animada era repreendida.
Ah, as meninas eram proibidas de usar saias, por motivos óbvios, uma vez que eram cerca de 400 homens para 70 mulheres e metade dos meninos vivia em regime de internato. Os demais alunos, inclusive as meninas, eram semi-internos e ficavam no colégio de 7h às 17h. Então, tínhamos um intervalo para o almoço muito animado por cantorias ao som de violões ou torcidas organizadas nos jogos de futebol dos meninos.
No ano seguinte, 1985, a ditadura acabou e tudo mudou. De uma hora para outra a liberdade era total, todos podiam namorar, andar de mãos dadas, beijar à vontade e eu fui a primeira menina a usar saia. Pobre so seu Chico, ainda me lembro do olhar de reprovação e surpresa que ele me dirigiu, certo de que aquele dia não seria fácil. O homem me vigiou o dia todo, desde que entrei no ônibus até a hora do almoço, quando me deu ordem de sentar num lugar onde não ficasse de frente para os alunos, foi uma farra.
Confesso que a minha coragem foi seriamente abalada quando cheguei no ponto de ônibus. Gente, deu uma vontade medonha de voltar para casa e trocar de roupa, mas não dava tempo, aí o jeito foi seguir em frente.
Na hora em que passei na frente do alojamento dos meninos, um deles, o Tucano, deu o alarme e todos correram para ver de quem era as "belas pernas" que passavam, uma ovação só, quase morri, pois além da bagunça masculina, as meninas (todas com inveja) quase me apedrejaram antes de chegarmos ao alojamento.
Bons tempos, claro que beijei muito e escolhia a dedo meus alvos até que me interessei por um aluno da minha turma e juro, até hoje sonho com ele. O apelido dele era Frajola, lembram do gato do desenho animado? Pois é, não é que ele se parecia mesmo com aquele tal gato!
O meu tempo mágico acabou, mas no dia 25 de abril teremos um encontro de Egressos do colégio e é claro estarei lá para relembrar dessa época da qual estou com muita nostalgia nos dias de hoje.
Postarei fotos do evento, pois quero dividir com vocês a minha alegria em regressar ao meu passado. Acredito que assim como aconteceu com Peg Sue, ele me espera lá naquela fazenda onde o tempo não parece passar, pois nossas almas ainda andam por aqueles caminhos e corredores, de camisetas verdes e calças jeans ou de macacão azul, botas de borracha e boné, rindo e espalhando pelo ar uma alegria que só os adolescentes possuem. A alegria de viver o primeiro ano do resto de suas vidas.

12 responderam:

*Wlady 9 de março de 2009 às 10:38  

Nilda, vc é muito especial!
Nossa, parece tudo tão recente quando descreve esses anos tão especiais! Rever pessoas com as quais convivemos intensamente uma fase tão importante de nossa vida é muito bom! Aproveite bastante o encontro!
bjk

Márcia 9 de março de 2009 às 11:19  

Que felicidade poder ter estes momentos para recordar né ?! Eu acho o máximo !!! Espero que se divirta muito neste encontro !!!
beijim

*Wlady 9 de março de 2009 às 11:44  

Nilda, Tem um presentinho pra vc no meu blog, passa lá!
bjk

Ruby Fernandes 9 de março de 2009 às 16:11  

Nilda querida, você descreveu tudo tão bem que pude visualizar todo o texto. Que delícia será esse reencontro, que bom que você vai mostrar pra gente as fotos. Você deve estar contando os dias né? Bjos.

Anônimo,  9 de março de 2009 às 16:40  

"Recordar é viver", assim disse um certo poeta cujo nome não lembro.
De vez em quando é muito bom fazer um "flash back" em nossa vida, e com ele resgatar "alguns fantasmas" do passado, selecioná-los e jogar na lixeira do esquecimento aqueles que não nos interessam, guardando no fundo do coração aqueles que só coisas boas nos proporcionaram.
Lendo seu curto "flash back", pude notar que você tem talento de escritora. Por que não escreve uma autobiografia? Tenho certeza que você tem muitoa nos contar!...
Um forte abraço.
Joésio, o seu vizinho oculto

Márcia 9 de março de 2009 às 16:40  

Enquanto a festa não chega, tem Meme pra vc responder tá ?!
beijim

Hazel Evangelista 9 de março de 2009 às 21:32  

Olá!!!!!!!

E não é que eu até sei o que "inxerida" quer dizer?? É que aqui em Portugal passam tantas, tantas, tantas telenovelas brasileiras, que acabamos por conhecer muita da vossa terminologia.

Então, "inxerida" é uma pessoa que está em todas, ou seja, em todo o lugar. Acertei???

ahahahah

Beijos!

QUERO SER ORGANIZADA 10 de março de 2009 às 00:51  
Este comentário foi removido pelo autor.
QUERO SER ORGANIZADA 10 de março de 2009 às 00:52  

Adorei ler o seu post e conhecer mais daquela época! :D
Boa sorte no reencontro!
Adoro a forma como vc escreve!

Tem um selinho pra vc, pega lá! :D

Margaretss 10 de março de 2009 às 02:24  

sabe uma coisa que adoro? posts enormes com historias...amo ler...e sempre leio duas vezes...
agorinha eu so passei o olho, pq to correndo pra atualizar minhas visitinhas (sao 2:24 da matina) que estao atrasadas, mas amanha com certeza vai ser um dia mais tranquilo e vou voltar aki pra ler tudo...
beijocas

Unknown 10 de março de 2009 às 09:23  

Nilda,
que bacana.
Todas temos nossas seções nostalgia, não é mesmo?
Mas ter histórias e gostar de relembrá-las é tudo de bom.
Parabéns pelo seu momento "seu passado a espera".
Eu, por aqui, espero as fotos.
Beijo

Unknown 10 de março de 2009 às 12:13  

Oi Nilda, também tenho muitas saudades dos meus verdes anos!! Querida, quero pedir uma ajudinha. Estou participando de uma promoção do blog Gamela Presentes. Dá uma passadinha no meu blog para saber como voce pode me ajudar e ainda concorrer a um presente! Beijos e aguardo sua visita

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