Assim é a vida...

>> terça-feira, 6 de janeiro de 2009


A vida é algo muito complexo e vivê-la depende de sabedoria somada ao conhecimento íntimo de nós mesmos.

Digo isso porque quantas vezes vivemos problemas e dificuldades das quais não sabemos a origem - de onde eles surgem para me confrontar? essa era a pergunta para a qual não tinha resposta. Nenhuma reposta.

Mas o tempo e as experiências da vida trouxeram a resposta na forma de um diagnóstico psiquiátrico: TBAH - Transtorno Bipolar Afetivo do Humor.

Não, não sou como a Britney ou como a Amy. A coisa não é apenas como a mídia mostra, tentando romancear-dramatizar-circenciar (se é que essa palavra existe) algo que é uma realidade diferente para cada portador.

A doença existe, é um fato e um fardo na vida de muitas pessoas e não é uma doença da moda, como se diz. Mas sim uma enfermidade apenas entendida pela medicina na segunda metade do século XX. O que era considerado uma psicose (Psicose Maníaco-Depressiva) evoluiu no entendimento médico para um quadro mais complexo de um transtorno, que como eu já disse afeta cada portador de uma maneira peculiar, embora tenha sintomas que são comuns aos diversos casos e níveis da doença.

Entenda bem isso, existem níveis diferentes em que a doença se apresenta. Indo de casos mais sutis, como o meu, a casos mais drásticos (vide Britney e Amy).

Falando de mim, sempre tive um humor inconstante, muitas vezes só eu sentia isso, em outras, deixava que as pessoas percebessem. Achava estranho o fato de que em alguns momentos visilvemente felizes eu não compartilha-se desse sentimento e quisesse ficar sozinha. Achava estranho também a queda que sempre tive por dormir, me sentia exausta e preferia uma boa tarde de sono a outras atividades. Com o tempo isso foi se acentuando.

Sempre fui boa aluna, sempre tive planos para a vida e enfrentei cedo as dificuldades em busca de uma vida melhor. Entrei para a Polícia Militar em 1990 e para a faculdade de Administração em 1993, pois agora podia pagar.

Meu sonho sempre foi mudar de emprego, nesse meio tempo encontrei alguém especial e resolvi me casar, a vida perfeita para uma pessoa que trilhava o caminho planejado desde a infância.

Terminada a faculdade, na qual me formei com louvor, comecei a estudar para fazer concurso público, uma verdadeira guerra conhecida apenas por quem enfrenta de verdade as bancas examinadoras do CESPE, da ESAF e cia. Posso dizer que é uma vida de sacrifícios diários. Já assisti aula em domingo de páscoa, carnaval e véspera de ano novo, das 8h à 18h. Pode acreditar.

Casei-me em 1995 e me separei em 2000, há quase 9 anos. O casamento não sobreviveu ao convívio de duas pessoas tão distintas em seus planos: eu tentando uma vida mais confortável e o meu ex querendo esbanjar aquilo que nós não tinhamos financeiramente. Mas ele encontrou alguém que o entendesse. O único problema é que ele demorou um ano para me informar. Coisas da vida.

Depois do baque da separação e da reorganização da minha vida, quando pensei que os bons resultados que vinha fazendo nas provas iriam se traduzir numa aprovação, senti que algo estava acontecendo comigo. Algo estranho, tristeza, falta de vontade, irritabilidade, diminuição da capacidade cognitiva. O estudo que era um prazer na minha vida passou de uma hora para outra a se tornar um peso, um peso como aqueles das balnças de antigamente, que eram de vários tamanhos e à medida que cresciam ficavam mais pesados. Era assim. Eu tentava esconder isso e continuava como uma locomotiva buscando meu objetivo. Mas o pior aconteceu, em abril de 2002 fui diagnosticada com depressão moderada. Iniciou-se então o tratamento com remédios e a terapia e junto com isso a fase mais intensa da minha vida.

Morando sozinha enfrentei muito da doença sozinha, até porque minha natureza é assim, enfrento a vida e ponto final.

Por que digo que essa foi a fase mais intensa da minha vida? porque foi nesse período em que de fato conheci a vida. A terapia me ensinou muito a meu respeito e deu limites para a minha existência. Delineou melhor os meus objetivos e me ensinou a parar quando fosse necessário, quando eu colocava a minha vida em risco.

Juntamente com o diagnóstico da depressão ainda tive que enfrentar uma alergia mutante e um problema de intestino sério. Afinal, um abismo nunca vem sozinho.

O que quero dizer desse período é que ele foi sofrido, dolorido, mas durante cinco anos, apesar do tratamento tudo parecia ser apenas paliativo. Eu sentia que algo mais estava por trás de tudo aquilo, pois tomar remédio e não melhorar, mesmo com todo o esforço era prelúdio de que algo mais acontecia.

Em 2007, depois de um período ruim e da perda do meu pai e ladeira ficou muito íngrime e confesso que não tinha mais força para enfrentar tudo aquilo. No mês de agosto, mês de cachorro louco, procurei o meu geriatra e ele me encaminhou para o psiquiatra com quem me trato agora. Cheguei a ele deseperada, sem expectativa de melhora e recomecei o tratamento, o doloroso tratamento com antidepressivos, no rodapé do meu prontuário uma palavra e uma interrogação - BIPOLAR?

Um mês depois e mais estabilizada comecei o tratamento com o moderador de humor e pimba, a mudança que esperei por cinco anos começou a acontecer. É claro que às vezes é necessário ajustar a dose do remádio e antes disso alguns sintomas mais fortes aparecem, os mais fortes, porque outros mais sutis estão sempre presentes. Resumindo é uma vida inconstante, de altos e baixos, de ajustes diários e muitas vezes penosos.
Algumas pessoas com as quais me relaciono hoje e também são bipolares, em comunidades do orkut, vivenciam o mesmo que eu e alguém já disse que é como domar um monstro, tipo Dr Jack. E é assim mesmo, sorrir enquanto se está tremendo por algum motivo desconhecido, demonstrar satisfação enquanto o que se quer é sumir ou desintegrar, fazer força para ficar em algum lugar enquanto se quer apenas a cama e o travesseiro do seu quarto, único lugar seguro do mundo.

Pois é, é mais ou menos assim. Mas para falar disso é preciso mais do que um post. Esse foi apenas um início. Quero falar mais sobre a doença e seus sintomas, o que vai ser depois... um passo depois do outro. O lema de um bipolar.

1 responderam:

Margaretss 15 de fevereiro de 2009 às 02:46  

Acabei de ler seu depoimento e cheguei a conclusão que mesmo com esse transtorno voce é uma mulher forte, guerreira e que embora o transtorno tente te dominar voce sempre está tentando dominar ele.
Vai ser uma guerra constante mas lute sempre pra voce ser a vencedora.
beijo grande

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